quarta-feira, 16 de maio de 2007

24 de Março / http://www.diariopopular.com.br/

A data 24 de março talvez não nos remonte a comemoração alguma ou a fato histórico em especial. Na Argentina, entretanto, a data relembra a amarga lembrança de um período que permanece presente na memória e na vida de nossos hermanos - e que não deveria, por nós, passar desapercebida, já que compartilhamos com a Argentina o mesmo sentimento de uma trajetória lastimável e dolorosa: a ditadura militar, que assolou diversos países latino-americanos nas décadas de 1960, 1970 e 1980.Os golpes militares, inseridos no contexto da Guerra Fria e patrocinados e/ou apoiados pelos Estados Unidos, visavam garantir a hegemonia capitalista na região. O primeiro passo da marcha ditatorial foi dado por Alfredo Stroessner, em 1954, no Paraguai. Dez anos depois, foi no Brasil. Seguiram a Bolívia (1971), Uruguai e Chile (ambos em 1973). Finalmente, em 24 de março de 1976, foi a vez da Argentina abrigar, em seus mais altos postos, os militares das três armas.Peculiaridades à parte, os regimes civis-militares, sem exceção, torturaram presos políticos. Na Argentina, apesar de ter durado relativamente pouco tempo (de 1976 a 1983), a ditadura atingiu o auge da crueldade. Estima-se que foram em torno de 30.000 pessoas “desaparecidas” - detidas, torturadas e, na maioria das vezes, mortas, com posterior ocultação de cadáver. E foi nessa conjuntura que teve início um embate que perdura até a atualidade: o movimento das Madres de Mayo, na luta pela busca de seus filhos detidos-desaparecidos. O movimento, que foi visto em um primeiro momento como um ato individual e ingênuo, posteriormente, tornou-se um novo sujeito social e político na luta pela busca dos argentinos detidos-desaparecidos, por listas com seus nomes e seu paradeiro.A esperança de resgatarem seus filhos das masmorras argentinas moveu centenas de mães aflitas naquele momento. No início, reuniam-se exclusivamente para buscar informações sobre seus hijos, exigindo das autoridades listas com os nomes dos desaparecidos. Hoje - ainda hoje - não querem somente listas: exigem os corpos das vítimas. Suas reivindicações, ao longo dos anos, se renovam, se expandem; sem nunca, entretanto, perderem de vista a mais antiga das exigências: a aparição com vida de seus filhos - ou a aparição dos corpos de seus filhos - num misto de senso jurídico e de remota esperança - que sempre fica no coração, por mais que a razão tente eliminá-la. E, mais do que nunca, exigem a punição dos carrascos da ditadura militar.Graças a sua luta, inúmeras leis argentinas que garantiam a impunidade dos algozes da ditadura foram revogadas. Atualmente, cerca de 200 desses criminosos estão cumprindo pena e muitos deles encontram-se condenados em outros países. Trinta e um anos depois na Argentina, 43 anos depois no Brasil. A ditadura militar não se encontra somente nos livros de história ou filmes. Permanece viva dentro de nós, de nossos pais, de nossos avós; na luta por justiça e contra a impunidade, expressa com tanta determinação pelas madres. O passado se faz presente e, a cada 24 de março, as madres, acompanhadas por milhares de seus compatriotas, saem às ruas para gritar que há memória, que não há esquecimento nem perdão. E que somente com justiça, será possível encerrar essa página da história.


Jaqueline Lisbôa Grupelli,Gabriela Daou Verenhitach, Liliana Soncini Dall’asta, Gissele Cassol, Geraldine Maurutto - Alunas do Mestrado em Integração Latino-Americana da Universidade Federal de Santa Maria/RS

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